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domingo, 2 de setembro de 2007

Analíse ao jogo do treinador de bancada - Pedro Ribeiro

Foi uma vitória muito sofrida e muito importante, não apenas pelo resultado em si como pela forma como foi obtida. Ficou demonstrado que o plantel tem soluções muito boas no banco, nomeadamente no ataque, mas também que tem debilidades evidentes que perante adversários tacticamente inteligentes podem ser exploradas – estamos longe de ser uma “armada invencível”, como muitos apregoam... Não concordo com a maioria das opiniões que aqui li relativamente à postura do Estrela da Amadora. É verdade que houve períodos em que abusaram do anti-jogo mas as dificuldades que sentimos foram sobretudo fruto da sua capacidade de pressão no nosso meio terreno que impediu que o nosso jogo se soltasse com fluidez. O Estrela apresentou-se num 4-4-2, com o seu meio-campo em losango, mas quando em situações de ataque, Pedro Pereira abria no flanco direito e N’Diaye (embora em posições mais interiores e mais próximo de Moses) surgia sobre a meia esquerda. Não conseguimos desta feita jogar com as nossas linhas adiantadas porque a dinâmica das duas equipas gerou uma constante superioridade numérica dos estrelistas no meio-campo. Face à forma como o adversário jogou, talvez fosse necessário que um dos laterais subisse em apoio sobre o meio-campo de forma a obstar a esse défice numérico. Para além disso, durante boa parte do jogo, faltou que os extremos soubessem recuar para “unir a equipa”, procurando auxiliar o meio-campo na construção de jogo quando este se tinha que haver com uma pressão intensa do adversário. Entre os blocos defensivo e ofensivo houve frequentemente espaço demasiado preenchido por jogadores da Amadora que aí bloqueavam a ligação meio-campo/ataque.Curiosamente, não acho que durante a primeira meia-hora tenhamos estado propriamente mal. É verdade que a pressão do adversário retirou alguma fluidez ao nosso jogo mas a verdade é que criamos oportunidades de golo suficientes para operar a reviravolta no marcador, após termos sofrido (mais) um golo de bola parada. Contudo, a vulnerabilidade aos contra-ataques canalizados fundamentalmente pelo (nosso) flanco-esquerdo (se bem que sem ocasionar situações de perigo eminente) talvez tenha intranquilizado a equipa. Os últimos quinze minutos da primeira parte foram já penosos – se bem que num lance mal anulado pelo fiscal de linha pudéssemos ter empatado por intermédio de Hussaine.Pensei que no reinício a equipa viesse com outro fôlego. Mas não. Após a alteração forçada ao intervalo (Vandinho passou a assumir as funções de Madrid, Castanheira o papel que cabia a Vandinho), pareceu-me até mais intranquilo (porquê?), sem soluções. Mantinha-se a distância entre linhas, com o médio de transição (agora, Castanheira) obrigado a jogar muito atrasado, quase a par do trinco (agora, Vandinho) e os homens da frente demasiado estáticos, presos às suas posições, presas fáceis de um bloco defensivo de compleição física impressionante. Nos primeiros 15 a 20 minutos da segunda parte, o jogo parecia perdido tal a impotência da equipa perante as dificuldades colocadas pelo adversário. Jorge Costa resolveu então arriscar tudo por tudo: retirou César Peixoto introduzindo Zé Manel e reconfigurando a equipa num 3-4-3 (João Pereira, Paulo Jorge, Rodriguez; Vandinho; João Pinto, Castanheira; Hussaine; Wender, Linz, Zé Manel). Agora sim, com o jogo aberto nas alas, com Hussaine endiabrado aproveitando a liberdade para evoluir na faixa central, atrás da linha avançada, as dificuldades do Estrela finalmente eram visíveis. Finalmente, em igualdade numérica a meio-campo, os estrelistas foram obrigados a recuar e a correr atrás da bola. O desgaste começava então a ser evidente e Daúto (cometendo um erro, do meu ponto de vista) faz recuar a sua equipa, fazendo entrar Marco Paulo para o lugar de N’Diaye e esgotando com isso as substituições. Jorge Costa sentiu que podia então arriscar o tudo ou nada, introduzindo Jaílson em detrimento de Wender (nesta fase, demasiado amorfo). Jogávamos em 3-3-4 (que já não via desde os tempos do Porto de Adriaanse):
Dani
João Pereira ---- Paulo Jorge ---- Rodriguez

Vandinho

Castanheira ---- João Pinto

Zé Manel ------------------------------Hussaine

Linz ------- Jaílson
É verdade que tivemos a sorte de fazer um golo na sequência de um pontapé de canto (tivemos 14 a nosso favor!) mas os últimos 15-20 minutos foram massacrantes. É verdade que o Estrela foi uma equipa inteligente durante a maior parte do tempo de jogo mas não conseguiu resistir (nem sequer fisicamente) ao desgaste provocado pela insistência e tenacidade da nossa equipa. O golo de Linz foi o coroar de uma exibição que primou sobretudo pela vontade, mais que pela qualidade mas que talvez tenha conferido justiça ao resultado.
No plano individual:
Dani: ainda não ganhou a confiança dos adeptos, mas sem que tenha tido muito trabalho, esteve bem no essencial. Saiu (surpreendentemente) bem dos postes num lance complicado já na fase final do encontro.
João Pereira: esteve complicativo na fase de maior desacerto da equipa, falhando passes e recepções simples, embora sem grandes dificuldades em termos defensivos – o Estrela explorou pouco o seu corredor. Melhorou imenso na fase final do jogo, não se coibindo de atacar apesar de ser um dos poucos (três) defesas.
César Peixoto: esteve mais uma vez desacertado. Não tem sentido posicional e isso faz com que seja muitas vezes apanhado em contrapé. Para alem disso, não ajuda nada ter à sua frente um jogador sem velocidade, sem capacidade para compensar as subidas do lateral adversário quando é caso disso. Tenho muito respeito pelo seu esforço, pela tenacidade com que procura relançar a sua carreira; não lhe posso censurar o empenho. Mas tenho dúvidas que consiga vir a ser um defesa-esquerdo defensivamente fiável. Espero sinceramente que ele me desminta.
Paulo Jorge e Rodriguez: por vezes sentiram dificuldades perante a corpulência de Moses, mas a verdade é que não permitiram grandes lances de perigo em jogo corrido. Paulo Jorge esteve mais discreto ao passo que Rodriguez compensou alguns passes falhados (por displicência) e faltas desnecessárias com o golo que relançou o jogo.
Madrid: fez um jogo tranquilo mas sem grande brilho. Pena a lesão...
Vandinho: mais um grande jogo de Vandinho, fisicamente muito bem. Na primeira parte, obrigado a jogar mais recuado do que ele e a equipa pretenderiam, acabou por estar nos lances mais perigosos da equipa. Esteve melhor do que esperava quando recuou para a posição de trinco. É verdade que falhou alguns passes, que nem sempre é clarividente mas é de uma utilidade tremenda.
João Pinto: não brilhou como em outros jogos mas isso teve a ver com o facto de a equipa estar demasiado partida. Falhou por isso demasiados passes e perdeu algumas vezes a bola de forma talvez evitável. Apesar de tudo, soube sacrificar-se pela equipa, jogando mais recuado do que habitual na fase do tudo ou nada. Parece em excelente forma física...
Wender: na primeira meia hora, fez o que me parece que era necessário, recuando na procura da bola uma vez que os médios estavam bloqueados. Contudo, a pouco e pouco foi perdendo essa mobilidade, entregando-se demasiado à marcação. Ainda por cima, esteve pouco inspirado nos duelos individuais. Penso que haverá jogos em que a sua utilidade será inegável, mas há outros em que é necessário um jogador com a velocidade e o pulmão que Wender já não tem...
Hussaine: o melhor em campo, o mais inspirado no período de menor rendimento colectivo. No flanco não é tão eficaz porque lhe falta a velocidade necessária para escapar ao adversário quando sai do drible – tantas vezes na primeira parte de ontem! O período em que jogou na faixa central mostrou que é aí que a sua qualidade com a bola nos pés é expontánia. Muito bem!
Linz: é um jogador semelhante a Tomás no estilo de jogo embora talvez menos físico mas com maior qualidade no apoio à construção de jogo. Ambos são jogadores que precisam de volume de jogo para renderem. Por isso, naturalmente o rendimento de Linz foi melhor na fase final do jogo. Falhou algumas hipóteses de visar a baliza mas revelou uma enorme frieza no lance do 2-1.
Castanheira: não entrou bem no jogo, no papel que na primeira parte coubera a Vandinho. Foi então obrigado a jogar demasiado recuado e não revelou soluções para transportar a bola para diante. Após as alterações de Jorge Costa, assumiu um dos vértices laterais do meio campo (curiosamente o direito) e tal como a equipa melhorou bastante de rendimento.
Zé Manel: uma das chaves da partida. A sua entrada coincidiu com a revolução táctica de Jorge Costa. Carrilou imenso jogo pela direita, tirando vários cruzamentos, nem sempre com conta, peso e medida. Num lance que lhe é típico surgiu à entrada da área a rematar ao poste, teve depois receio de rematar à baliza num lance em que surgiu isolado na área sobe a meia direita (preferindo o passe algo defeituoso para Linz) e serviu na perfeição Linz para o golo da vitória. É sério candidato ao onze...
Jaílson: mostrou que pode ser muito útil neste tipo de situações, quando é necessário forçar o ataque, fazendo companhia ao ponta-de-lança. Tem boa parte do mérito do primeiro golo (é ele quem desvia a bola ao primeiro poste). Obrigou a defensiva estrelista a jogar 1x1 frente aos nossos avançados procurando provocar o erro (vide lance do 2-1). Há muita gente que critica sem razão o jogador quando ele me parece poder ser útil. Tem uma qualidade técnica muito razoável e tem a versatilidade suficiente para recuar em apoio ao meio campo ou cair pontualmente sobre os flancos. Não se confunda o jogador com a política da SAD. A mim também não me agradam os empréstimos sem quaisquer direitos a nosso favor, mas isso não me impede de reconhecer o valor do jogador...
Foram três pontos muito importantes porque é essencial começar bem a Liga. O jogo serviu também para mostrar que, apesar do poderio atacante que temos (muita gente de qualidade ficou de fora do jogo!), a equipa não é isenta de debilidades e que não vamos esmagar todos os adversários que nos apareçam pela frente. Há problemas de organização colectiva que há que resolver, particularmente, volto a dizer, nas alas...
Texto de Pedro Ribeiro

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